segunda-feira, 30 de março de 2009


Entrevista: cacique

Aritana Yawalapiti




Parque Indígena Xingu - 17/05/2001 -Autor: Equipe Brasil Oeste




O cacique Aritana, 51 anos, é hoje a mais respeitada liderança do Alto Xingu. Desde quando assumiu a chefia dos Yawalapiti, há cerca de 20 anos, ele luta pela preservação da cultura e dos hábitos dos índios xinguanos. “É muito difícil mostrar aos jovens a importância de manter nossos costumes, mas com conversa eles estão vendo que é melhor sermos o que a gente é: índio”, explica o cacique.

Preparado desde cedo para ser cacique, Aritana conheceu os irmãos Orlando e Cláudio Villas Bôas ainda criança, no final da década de 1950. “Aprendi muito com eles sobre a importância de se preservar os hábitos antigos”, conta o chefe. Sob estas influências, ele se tornou um grande líder da causa indígena dentro e fora do Xingu.

Grupo – A educação indígena, desde a época que os Villas Bôas estavam no parque, era uma questão polêmica. Eles defendiam que o índio deveria ter o mínimo possível de contato com a cultura do branco. Como está isso hoje?

Aritana – É triste, mas eu acho que alguns projetos de educação estão acabando com a cultura do Alto Xingu. Já vejo que os jovens não gostam mais tanto de falar sua língua, preferem usar roupa e estão mais interessados nas coisas do branco. O problema é que os professores ensinam os valores dos brancos e os jovens param de respeitar as tradições. O Kuarup, por exemplo, é uma festa muito séria e importante pra gente. É a festa dos mortos. E no último Kuarup eu percebi que alguns jovens achavam que isso é brincadeira.

Na época do Orlando (Villas Bôas), por exemplo, havia preocupação em manter a cultura e a educação do jeito do índio. Eu era pequeno e ficava chateado, perguntando porque o Orlando não dava chinelo e bicicleta. Depois é que eu fui entender que era pra gente manter a força na perna. Se a criança anda de chinelo o dia todo ela não consegue mais subir em árvore.

"É o índio que tem que falar seu direito, que tem que preparar documento. A saúde, é o branco que está mandando, a mesma coisa a educação. Mas eu quero é que o índio contrate o médico, o professor, e manda pra cá". Foto: Fernando Zarur

Grupo – Existem propostas de geração de renda para as aldeias, principalmente por meio do turismo. Como você vê essa situação?

Aritana – Estão sempre procurando a gente para fazer projetos. Nossa aldeia aqui é o primeiro lugar em que eles passam, mas eu sempre digo que não. A primeira proposta que recebi era pra colocar lanchas de luxo e um avião trazendo gente de uma fazenda perto do parque para a aldeia. Recebemos propostas quase todo dia. Recusamos porque não queremos nem precisamos do dinheiro de branco para viver bem aqui.

Outras tribos já aceitaram porque querem dinheiro. O problema aqui é que as tribos que aceitam visitas de turistas deviam reunir as lideranças do Xingu para conversar sobre a questão, mas isso não acontece. Tivemos uma reunião em Brasília para discutir o problema, e foi uma discussão brava, mas nós não abrimos mão da nossa posição contra turismo aqui. Tem que ser firme. No final, todo mundo que aceita turista se arrepende.

Grupo – E você acha que o índio está bem representado politicamente pela Funai e pelas ONGs que trabalham por aqui?

Aritana – Não queremos mais o branco mandando e defendendo a gente. A gente quer que os próprios índios se relacionem direto com o governo e mandem documentos falando dos problemas. A saúde é o branco que está mandando. A mesma coisa com a educação. Mas eu quero que o índio contrate o médico, o professor e mande pra cá. É só assim que a gente vai poder cuidar bem de verdade dos nossos interesses.

Grupo – E no futuro, quando os novos estiverem no comando das aldeias, como vai ser?

Aritana - Nós ensinamos aos jovens que é bom aprender a língua do branco para não ser enganado. O que tem que acontecer é aprender o que o branco tem de bom, mas não perder nossa cultura. Hoje a gente já usa barco a motor para as viagens longas e tem televisão na aldeia pra saber das notícias, mas eu não deixo as crianças verem televisão muito tempo.

Os índios aqui do Alto (Xingu) são mais preservados, mas os do Baixo tiveram mais contato com os brancos, então eles ficaram dependentes das coisas de branco. Os Caiabis, por exemplo, vieram da região de Rio Peixoto, que foi estragada por seringueiros e garimpeiros. Eles gostam muito daqui do Xingu, mas ainda precisam muito das coisas do branco, como roupa, sabonete e sal. Aqui a gente tem tudo que precisa.

http://www.brasiloeste.com.br/noticia/1190/entrevista-aritana-yawalapiti




Nós éramos um povo sem leis,

mas vivíamos em harmonia com o Grande Espirito,

Criador e Mestre de todas as coisas.

Eramos acusados de sermos "selvagens".

O branco nao compreendia nossas preces,

nem ao menos tentava compreendê-las.

Quando cantávamos nossos cânticos de louvor ao Sol,

`a Lua, ou ao Vento, éramos chamados de idólatras.


Sem nada compreender, o branco, nos condenou,

como se fossemos "Almas perdidas".

Isto apenas por não entenderem que nossa religião era diferente da deles.


(Taganta Mani, Indio Stoney)

sábado, 28 de março de 2009

Da vida real para telinha
(Matéria sobre o indígena Fidelis Baniwa, que trabalhou na série Mad Maria na Globo)



Ele é o índio caripuna que andava sorrateiro pela mata amazônica e que foi flagrado pelos alemães furtando alguns de seus pequenos objetos. Teve suas mãos decapitadas por esse frio povo germânico como castigo e agora está às voltas com a beleza de Consuelo (Ana Paula Arósio).

Nessa entrevista exclusiva, Fidélis Baniwa conta um pouco sobre o seu personagem na minissérie Mad Maria e a importância da divulgação da cultura indígena aos telespectadores que, por diversos motivos, desconhecem as boas raízes dos reais nativos da América.

Entrevista:
Como é que as pessoas te conheceram? Como você pegou esse papel?
Tenho uma história um pouco diferente, né? Nasci em Santa Isabel do Rio Negro, em Igarapé, Amazonas. Em 1997, eu me fixei em Manaus para estudar. Paralelamente a isso, eu fui estudar na companhia Vitória Régia de Teatro, que é uma das companhias mais antigas na cidade. É também um dos pilares do gênero com Nonato Tavares ao seu comando que, além de ator, é também um artista plástico bem reconhecido por seu trabalho. Com ele, a gente trabalhou temáticas indígenas mesmo, mitos do meu povo. Assim, pudemos reavivar um pouco dessa cultura há muito degradada pela civilização. De volta a Rio Negro, a gente encenou a peça "Antes O Mundo Não Existia" que representava a história de um dos povos indígenas do Amazonas.

E você é índio mesmo?
Eu sou. Sou um índio da tribo Baniwa.

"Baniwa" é inclusive o seu sobrenome. Ele é adotado por causa da tribo?
Exato. É porque todos nós, os indígenas, usamos o nome de nossa tribo para podermos nos identificar. É aí que o índio consegue distinguir de onde vem o companheiro.

Os Baniwa são um povo originário do Amazonas?
Hoje, os Baniwa estão espalhados, tanto na parte da fronteira do Brasil com a Venezuela, quanto na Colômbia. Inclusive, há mais de nós nesses outros dois países do que no Brasil. Isso aconteceu por causa da invasão portuguesa que afugentou os índios que viviam em território que antes era espanhol para os países vizinhos.

E que língua os "Baniwa" falam? É o Tupi-guarani?
Não. Nós falamos o "aruaque", que é totalmente diferente do tupi.

Você chegou a ter uma vida menos urbanizada do que as dos índios de hoje?
Sim. Até hoje, a maioria das coisas como rituais de iniciação, as comidas típicas, as vestimentas, são todas as mesmas. Não mudou muita coisa. O que mais mudou mesmo foram as estruturas das casas, que antes eram grandes para suportar famílias inteiras e manter suas dinastias.

E isso deve ter causado uma mudança profunda no costume de vocês, não?
Com certeza, isso foi uma modificação imposta pelos missionários para confundir a cabeça dos índios porque, ter uma casa onde havia uma grande liderança, como um grande chefe de família, que possuía uma tradicional família indígena, significava uma forte ameaça para eles. Então, a partir do momento que acabaram com essa unidade familiar, os índios perderam a força, a identidade com o passado, e foram conquistados.







E como é estar aparecendo agora em cadeia nacional, por conta de Mad Maria, onde todos aprenderão sobre os costumes do seu povo?
Na verdade o índio caripuna tem uma aproximação maior do tupi-guarani do que de fato minha tribo. Como eu falo "ingatu", que é como se fosse uma língua universal para os índios, me sinto bem próximo desse personagem que estou representando na série. Conversei também com o Márcio de Souza, que é o autor do romance, e ele me falou justamente que os caripunas possuem um tronco lingüístico parecido com o de minha tribo. O trabalho que a TV Globo nos proporciona hoje é um ponto bem positivo para o índio brasileiro. Mostrar a nossa cultura de uma forma mais real a tanta gente é muito importante. Depois de anos camuflados como bandidos ou selvagens, o telespectador agora pode conhecer o lado bom e puro do índio, que, na verdade, foi mais uma das vítimas da colonização do homem branco. A idéia é o conhecimento da raça. Hoje, não se identifica um Baniwa ou um Caripuna nas ruas, mas sim, um índio qualquer. E todo índio é diferente. A série talvez traga um pouco desse conhecimento ao povo, que é o que nos interessa. Queremos ser reconhecidos. Ter o nosso lugar, sempre que existirmos.



matéria completa:http://redeglobo.globo.com/Series/Madmaria/0,,AA914712-4147,00.html

terça-feira, 24 de março de 2009




Disse Fher(vocalista da Banda Maná) :
"Chico Mendes dijó algo:
Si mi vida sirve para salvar a Amazônia,
yo estoy dispuesto a murir!
Esta canción la dedicamos a todos brasileños
que tienen el coraje de protestar contra la destruicción de la selva!

Quando Os Anjos Choram


Chico Mendez, o mataram
era um defensor e um anjo
de toda a Amazônia
ele morreu a sangue frio
sabia Collor de Melo
e também a polícia

quando os anjos choram
chuva cai sobre a aldeia,
chuva sobre o cemitério
alguém morreu...

um anjo caiu
um anjo morreu
um anjo se foi
e não voltará

quando o assassino fugia
Chico Mendez morria
a selva se sufocava em choro
ele deixou dois lindos filhos
uma esposa valorosa
e uma selva em agonia

quando os anjos choram
é por cada árvore que morre
cada estrela que se apaga
ho...no...noo...
um anjo caiu
um anjo morreu
um anjo se foi
e não voltará
um anjo caiu
um anjo morreu
um anjo se foi
se foi voando na madrugada
quando os anjos choram
quando os anjos choram
chorará
quando os anjos choram
quando os anjos choram
Choverá
huuu aaaa......ho no..noo...no
huuu aaaa......ho no..noo...no

Curumim
desvenda
esta mata
pra mim





ÍNDIOS DO ACRE


O nome Acre origina-se de Áquiri, forma pela qual os exploradores da região transcreveram a palavra Uwákuru, do dialeto dos índios Ipurinã.

O Acre é o único estado compreendido no quinto fuso horário em relação à Greenwich, com duas horas a menos que o horário oficial de Brasília, sendo também a última região a ser incorporada ao território brasileiro.

As tribos habitantes do Acre são principalmente dos troncos Pano e Aruaque (Aruak).

Ao Pano pertencem os Kaxinawás, Yawanawás, Poyanawás, Jaminawás, Nukuinis, Araras e Kaxararis.

Ao tronco Aruaque pertencem os Kulinas e os Kampas.


KAXINAWÁ OU KAXINAUÁ

Em águas do (aldeias no Peru): Juruá, Curunja, Embira; (aldeias no Brasil): Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Envira, Humaitá e Purus, vivem os Kaxinauá e seus parentes. Sua população é de cerca de seis mil pessoas vivendo em meio à floresta tropical desde o leste peruano até o Acre.


OS MASHCOS (conhecidos hoje pelo nome de Harakmbu)


Os Mashcos (nus) são uma das inúmeras tribos que campearam o rico Acre (tempo em que o território peruano se estendia até o rio Madeira no Brasil) e lutaram com muito vigor contra os usurpadores de seus pagos. São índios de cor morena, altos, que costumavam raspar a cabeça com a taquara e por esse motivo eram denominados "os calvos".

Hoje, os Mashcos, formam um povo silvícola caracterizado como uma das principais tribos arawakas. Atualmente não chegam a 2000 e grande parte estão já civilizados.



Texto pesquisado e desenvolvido por ROSANE VOLPATTO
http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendaindiosacre.html

domingo, 22 de março de 2009


NO SANGUE DA TERRA NADA GUARANI

e o coração, coração o coração lá
e o coração, coração o coração lá
tristeza abrindo o coração, coração o coração lá
tristeza abrindo o coração, coração o coração lá

sanga aberta- clara vida- sangra vida fome
berra fome vida
nossa vida outra vida "inda"
trigo-índio-índia
campo santo era
tu gostavas tanto de plantar na terra
nossa
no sangue da terra nada guarani

que coragem vem parindo-por dentro parindo
vai parindo feio
não se amansa a relho- o povo da terra
vai rasgando ao meio este peito berra
um grito de guerra-prá salvar a terra
para por os "gringo"prá fora daqui

Nelson Coelho de Castro

Esta música foi vencedora do 1º Festival Latino-americano da Canção (Musicanto) - 1983





Curumim desvenda

teu passado
verdinho assim









Nova Teoria da pré-história amazônica valoriza culturas ancestrais


A hipótese da nova teoria


Essa nova visão arqueológica adota o conceito de “gênese” das sociedades humana, definindo-o como um acontecimento de longa duração, no qual a experiência prática e sensível gera diferentes culturas que evoluem dentro de seus próprios parâmetros.

Assim, as transformações materiais, culturais e políticas das primeiras sociedades amazônicas, antes da conquista européia, só podem ter sido o resultado da reconstrução incessante de suas experiências precedentes. A evolução, nesta teoria, é explicada pelos estágios anteriores da organização social nativa.
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A particularidade do desenvolvimento dessas sociedades é o que essa teoria chama de “gênese”, um acontecimento de longa duração, que se contrapõe à hipótese de datas ou períodos fixos, “iniciais”.
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Para valorizar nosso passado é que surge a idéia de gênese, que não é um processo evolucionista, retilíneo, mas constante reconstrução. Assim, a divisão tradicional da evolução da pré-história amazônica em quatro épocas - paleoíndia, arcaica, formativa e complexa – é rejeitada como inadequada, artificial, e exógena.

O paleoíndio, por exemplo, que é categoria que se adequa aos ancestrais dos indígenas norte-americanos, enquanto caçadores especializados num clima frio e seco, na era final das glaciações (circa 12 mil anos atrás), não é funcional ao se abordar a proto-colonização das florestas quentes e úmidas pelas populações de características mongólicas, ancestrais de nossos índios.
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Na floresta se teriam criado, ao longo de um extenso período, práticas e costumes englobados pela nova teoria na definição de Cultura Tropical, em que, já superada a fase de mera satisfação das necessidades, as sociedades amazônicas teriam obtido um sucesso notável na adaptação humana à floresta úmida.

O homem teria passado a co-evoluir com essa floresta. Da reconstrução da Cultura Tropical teria surgido, então, a gênese da Cultura Neotropical em que as sociedades, já conhecedoras dos recursos e limites do ambiente, teriam florescido em interações geopolíticas, sociais e étnicas que se destacam pela originalidade, inventividade e êxito, e cuja evolução só seria detida pela ruptura da conquista européia.

Importância da nova teoria

As sociedades amazônicas pré-históricas, com muitos milhares de anos de sucesso em sua integração eco-social na floresta, deixaram inúmeros vestígios materiais. Entretanto, a sociedade brasileira atual, ainda não consegue valorizar suas soluções, e tal como desvaloriza os descendentes atuais daquelas sociedades – os indígenas – despreza suas relíquias.

Isso porque ainda vê esses descendentes e esses vestígios como parte de um passado morto, e não como integrantes da futura Civilização Brasileira, ora em gestação, que pode se valer da originalidade das soluções sociais e geopolíticas já testadas na floresta tropical. Daí o peso de uma visão que re-valoriza o passado como ferramenta de construção do presente.

Para isso a teoria defende a necessidade não apenas da preservação rigorosa dos vestígios arqueológicos, como de projetos sérios de divulgação científica, de alterações no Ensino Fundamental que levem estes saberes aos alunos do ensino médio e fundamental e que os tornem básicos nos Cursos Superiores de Ciências Humanas, e a regulamentação da profissão de arqueólogo.

Texto de divulgação científica publicado em 01 de dezembro de 2002.

Pesquisador(es) Responsável(eis)
Marcos Pereira Magalhães
Matéria completa:http://www.canalciencia.ibict.br/pesquisas/pesquisa.php?ref_pesquisa=6

sexta-feira, 20 de março de 2009


  • "Por quê não perpetuar,
  • mesmo colocando-os somente por escrito,
  • velhos hábitos e costumes
  • que estão de toda forma condenados ?

  • Quanto menos lhes prestarmos atenção,
  • mais depressa hão de desaparecer.

  • Nós mesmos, em alguns períodos de nossa história,
  • não teremos cedido às mesmas ilusões
  • e fomos obrigados, mais tarde
  • a multiplicar esforços para reatar
  • com um passado cujas raízes
  • havíamos querido cortar?"

  • (Claude Lévi-Strauss; antropólogo)

Povos indígenas,
história e
democracia






Por mais de 400 anos, os povos indígenas no Brasil sofreram o processo colonizador como vítimas e, eventualmente, como aliados para a defesa do território nacional frente aos diferentes invasores. O domínio das terras e caminhos, das matas e rios, o conhecimento milenar da natureza tornava-os imprescindíveis à empresa colonial e, ao mesmo tempo, objeto de desrespeito, exploração e questionamento da própria humanidade.

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Na esteira de quase cinco séculos da construção nacional, centenas de povos desapareceram, milhões de indígenas morreram e avançamos no Século XX com uma visão precária e contraditória do que havia restado das populações originais desta terra, numa mistura de fascínio, ignorância e desprezo.

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O período desenvolvimentista dos anos 50 produziu as estratégias - como a criação do Parque Nacional do Xingu - de remoção e reassentamento territorial de diferentes povos, para protegê-los na mesma medida em que se lhes subtraía o território e se lhes confinava nas sobras da expansão econômica e nos corredores entre as novas estradas que rumavam para o interior.

A ditadura militar acelerou o processo de espoliação dos povos indígenas, expondo brutalmente suas frágeis existências ao ciclo voraz do capital, incentivando a ocupação desordenada da região amazônica e disseminando doenças, morte e miséria nas aldeias indígenas. A ditadura quebra a relação contraditória vigente desde a colônia entre o Estado nacional e os povos indígenas para anunciar com radicalidade o etnocídio como "o preço a pagar pelo progresso". Buscava-se a integração dos povos indígenas sobreviventes à sociedade nacional como a vitória final de um Brasil branco e homogêneo.

Como toda a sociedade nacional, também os povos indígenas se mobilizaram durante o último período da ditadura: assembléias, denúncias, ações coletivas passaram a ocorrer com intensidade crescente, reivindicando terras, afirmando culturas, cobrando respeito. "Brasil, Nunca Mais" deixava de ser uma aspiração restrita aos grupos que lutavam pela Anistia, para ser abraçada por todos os setores sociais, inclusive os povos indígenas.

O Congresso Constituinte (1987-1988) foi o espaço pós-ditadura no qual o conjunto da sociedade brasileira se encontrou para construir um novo pacto político e social. Ali foi transformada radicalmente a orientação do Estado com relação aos povos originários: de uma perspectiva integracionista, que pressupõe a superioridade da sociedade nacional frente às sociedades indígenas, passamos a uma perspectiva de respeito à alteridade, que pressupõe a igualdade de direitos entre os diferentes modos de existência no interior do Estado-nação.

A Constituição de 1988 afirma no artigo 231: "São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens".

Ao longo dos últimos 20 anos, a sociedade brasileira vem buscando cumprir, embora de maneira muito lenta, esse novo mandato constitucional: várias terras indígenas foram demarcadas em todas as regiões do país; políticas públicas diferenciadas em saúde e educação vêm sendo experimentadas; um novo Estatuto dos Povos Indígenas foi proposto ao Congresso Nacional; a Comissão Nacional de Política Indigenista foi criada pelo atual governo; vem sendo exigida proteção para os povos indígenas ainda não contatados (cerca de 70) na Região Amazônica. Há muitíssimo por fazer, mas o que foi feito, o foi dentro dos novos marcos constitucionais.

Por parte dos 235 povos indígenas também muitas mudanças ocorreram, alicerçadas nesses mesmos marcos: comunidades indígenas participaram ativamente na demarcação de suas terras; povos que estavam morrendo voltaram a crescer; o conhecimento tradicional da flora, da fauna, das maneiras próprias de compreender saúde e educação, tem sido valorizado e aplicado; povos, principalmente do Nordeste, que exerciam suas culturas clandestinamente, voltaram a se expor por inteiro e com orgulho, retomando memórias e territórios ancestrais; comunidades indígenas urbanas se revelam em todo o país, reafirmando valores e culturas, em permanente intercâmbio com as aldeias e com a sociedade nacional. Avalia-se que o total da população indígena hoje pode chegar a um milhão de pessoas, numa taxa de crescimento superior à média nacional.

Paulo Maldos , assessor político do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em artigo publicado no jornal Valor, 18-07-2008.

Matéria na íntegra :

http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=29&task=detalhe&id=15338

quinta-feira, 19 de março de 2009

(Cascata Xanxarê - Santa Catarina)
Canteis a melodia de uma nova vida.

Canto e canto e recanto
a melodia da nova vida
tão construída
nova vida verde
nova vida agreste
nova vida que se renova
como as primaveras
natureza sempre ensina
venha nova vida!

Canto canto e recanto
o lugar da nova vida
tão construída
nova vida verte
nova vida investe
nova vida que se refaz
como as cachoeiras
natureza sempre modelo
vamos nova vida!

Anorkinda

....

Conta
Curumim
tua história
pra mim




Cosmologia - Tribo Araweté

Os Araweté são um povo tupi-guarani de caçadores e coletores da floresta de terra firme, que se deslocou há cerca de quarenta anos das cabeceiras do rio Bacajá, em direção ao rio Xingu, no Estado do Pará.

"
No começo os humanos (bïde) e os deuses (Maï) moravam todos juntos. Esse era um mundo sem morte e sem trabalho, mas também sem fogo e sem plantas cultivadas. Um dia, insultado por sua esposa humana, o deus Aranãmi decidiu abandonar a terra. Acompanhado por seu sobrinho Hehede'a, ele tomou seu chocalho de pajé e começou a cantar e a fumar. Cantando, fez com que o solo de pedra onde estavam subisse às alturas. Assim se formou o firmamento: o céu que se vê hoje é o lado de baixo dessa imensa placa de pedra. Junto com Aranãmi e seu sobrinho subiram dezenas de outras raças divinas: os Maï hete, os Awerikã, Marairã, Ñã-Maï, Tiwawi, Awî Peye, Moropïnã. Os Iwã Pïdî Pa subiram ainda mais alto, formando um segundo céu, o "céu vermelho".

A separação do céu e da terra causou uma catástrofe. Privada de suas fundações de pedra, a terra se dissolveu sob as águas de um dilúvio: o jacaré e a piranha monstruosos devoravam os humanos. Apenas dois homens e uma mulher conseguiram se salvar, subindo num pé de bacaba. Eles são os tema ipi, a "origem da rama": os ancestrais da humanidade atual. Na convulsão provocada pelo dilúvio, alguns Maï procuraram escapar dos monstros afundando na água e criando o mundo inferior, onde habitam hoje, em ilhas de um grande rio subterrâneo.

As marcas da divisão do cosmos estão em toda parte: os morrotes de pedra que pontuam o território araweté são fragmentos do céu que se ergueu; as pedras do igarapé Ipixuna ainda guardam as pegadas dos Maï; as moitas de banana-brava espalhadas na mata são as antigas roças dos deuses, que comiam dessa planta antes de conhecer o milho. As plantas cultivadas e a arte de cozinhar os alimentos foram reveladas aos humanos e aos deuses por um pequeno pássaro vermelho da floresta.
Bïde, os humanos, são chamados pelos Araweté de "os abandonados", os que foram deixados para trás pelos deuses. Tudo que há em nosso mundo do meio é o que foi abandonado; para os céus foram os maiores animais, as melhores plantas, a mais bela gente - pois os Maï são como a gente, porém mais altos, mais fortes e imponentes. Tudo no céu é feito de pedra, imperecível e perfeito: as casas, as panelas, os arcos, os machados. A pedra é, para os deuses, maleável como o barro para nós. Lá ninguém trabalha, pois o milho se planta sozinho, as ferramentas agrícolas operam por si mesmas. O mundo celeste é um mundo de caçadas, danças, festas constantes de cauim de milho; seus habitantes estão sempre esplendidamente pintados de jenipapo, adornados com penas de cotinga e arara, perfumados com a resina da árvore i d;iri'i (Trattinickia rhoifolia).

Mas os Maï são, acima de tudo, imunes à doença e à morte: eles levaram consigo a ciência da eterna juventude. O exílio dos deuses criou a condição de tudo que é terrestre: a submissão ao tempo, isto é, o envelhecimento e a morte. Mas, se partilhamos dessa comum condição mortal, distinguimo-nos dos demais habitantes da terra por termos um futuro. Os humanos são "aqueles que irão", que reencontrarão os Maï no céu, após a morte. A divisão entre o céu e a terra não é intransponível: os deuses falam com os homens, e os homens estarão um dia à altura dos deuses."

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/arawete/110

quarta-feira, 18 de março de 2009




Curumim Chama Cunhatã

Que Eu Vou Contar

(Todo Dia Era Dia De Índio)

Composição: Tim Maia e Jorge Ben Jor

Jês, Kariris, Karajás, Tukanos, Caraíbas,
Makus, Nambikwaras, Tupis, Bororós,
Guaranis, Kaiowa, Ñandeva, YemiKruia
Yanomá, Waurá, Kamayurá, Iawalapiti, Suyá,
Txikão, Txu-Karramãe, Xokren, Xikrin, Krahô,
Ramkokamenkrá, Suyá

Hey! Hey! Hey!
Hey! Hey! Hey!

Curumim chama cunhatã que eu vou contar
Cunhatã chama curumim que eu vou contar
Curumim, cunhatã
Cunhatã, curumim

Antes que os homens aqui pisassem
Nas ricas e férteis terraes brazilis
Que eram povoadas e amadas por milhões de índios
Reais donos felizes
Da terra do pau-brasil
Pois todo dia, toda hora, era dia de índio
Pois todo dia, toda hora, era dia de índio

Mas agora eles só têm um dia
O dia dezenove de abril
Mas agora eles só têm um dia
O dia dezenove de abril

Amantes da pureza e da natureza
Eles são de verdade incapazes
De maltratarem as femeas
Ou de poluir o rio, o céu e o mar
Protegendo o equilíbrio ecológico
Da terra, fauna e flora
Pois na sua história, o índio
É o exemplo mais puro
Mais perfeito, mais belo
Junto da harmonia da fraternidade
E da alegria,

Da alegria de viver
Da alegria de amar
Mas no entanto agora
O seu canto de guerra
É um choro de uma raça inocente
Que já foi muito contente
Pois antigamente

Todo dia, toda hora, era dia de índio
Todo dia, toda hora, era dia de índio

Hey! Hey! Hey!

Jês, Kariris, Karajás, Tukanos, Caraíbas,
Makus, Nambikwaras, Tupis, Bororós,
Guaranis, Kaiowa, Ñandeva, YemiKruia
Yanomá, Waurá, Kamayurá, Iawalapiti, Suyá,
Txikão, Txu-Karramãe, Xokren, Xikrin, Krahô,
Ramkokamenkrá, Suyá

Todo dia, toda hora, era dia de índio
Todo dia, toda hora, era dia de índio

Hey! Hey! Hey!
Curumim, cunhatã
Hey! Hey! Hey!
Cunhatã, curumim
Hey! Hey! Hey!
Curumim, cunhatã
Hey! Hey! Hey!
Cunhatã, curumim

........

segunda-feira, 16 de março de 2009

A Mãe -Natureza é toda poderosa, tendo para si, toda Eternidade.
O que são as invenções dos homens?
Cidades altas que se extendem aos confins do deserto?
Armas terríveis, que eles utilizam para defender sua conquista?
Nada mais são do que um pouco de pó,
o qual, as forcas naturais tendem a restituir à sua forma primitiva.
Desertem por alguns anos das cidades,
abandonem por alguns meses,
o canhão ou a metralhadora na mata
e muito em breve, o mato e a ferrugem
terão devorado o aço duro.

Em outras eras, solitudes vastas
foram povoadas por vilas poderosas.
Atualmente, restam apenas ruínas
e até mesmo as ruínas terminam
por se confundir com a terra eternamente virgem.

Que importa os homens que passarem?
O Espírito terá apenas de assoprar sobre eles
e eles já lá não mais estarão!

Aí então, os filhos da terra,
retomarão a posse da Terra.
E os tempos passados voltarão!

(Bear Spirit)

domingo, 15 de março de 2009


LENDA DE JACI - A Lua







"Este nome (yacy-taperê) liga-se a uma lenda, que tem relação com o conto das amazonas.

Dizem que, quando desceram 'umas mulheres' (ceta cunhã) ficaram nesse lugar irmã e irmão".
E assim, nessa linguagem saborosa, vai João Barbosa Rodrigues, em O rio Iamundá, desfiando a belíssima lenda ameríndia. Conta como se apaixonou a irmã pelo irmão. E como o visitava cada noite em sua rede, misteriosamente, protegida pelas trevas. E como o irmão, para descobrir quem era aquela que o despertava para o amor, umedeceu-lhe as faces com urucum.
E ela que habitava as margens do lago Iaci, espelhou-se em suas águas e viu que estava marcada para sempre. Manejando o arco, despediu flecha após flecha, até formar uma longa vara, e por ela subiu e transformou-se em lua.
O irmão que habitava o alto da serra, indo vê-la e não a encontrando, de dor metamorfoseou-se em mutum. Ela agora vem mensalmente, sob a forma de lua, mirar-se nos espelhos dos lagos para ver se desapareceram as manchas.

(Guimarães Ruth. "Yacy taperê, diabo menor". Província de São Pedro. Porto Alegre, Livraria do Globo, nº 6, 1947, p.39-41)
http://www.jangadabrasil.com.br/revista/agosto103/im10308.asp

sábado, 14 de março de 2009

INAIÊ - A águia solitária

Ouço vozes sussurrantes de dentro da mata virgem.
Tão virgem e intocada como a deusa Lua Jaci,
que banha todos os rios.
Tão pura como a chuva e intocada,
Como a virgem índia.
Jovem índia guerreira,que do alto do penhasco,
Lança vôos nas asas da Grande Águia
sob os olhos de Amanacy-mãe das chuvas
Uma águia tão branca feito as nuvens,
Veloz feito Pôlo,deus dos ventos
E branda como o coração da virgem índia.
E nos céus, não se sabe se é da Àguia,
Ou se é da índia,os gritos de Liberdade,
Vida e muita alegria.
Intocada índia,feito as filhas de Iara,
Virgem índia que faz de seu manto,
A beleza das águas da cachoeira.
E não se sabe,se é um sonho de Araci
a Ninfa das manhãs e da aurora
Ou a fertilidade de Cy-a encarnação da Terra
e de todos os ventres férteis
Virgem índia prometida,
Que carrega nas veias o sangue,
Em penas verde e branca
Feito noiva das tempestades
Celebrou a vida cortando o infinito
Com sua pureza e seu amor...
Inaie ,a índia virgem e intocada,
A águia solitária.

Ntakeshi – contando estórias

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Curumim
ensina
a olhar
pra dentro
de mim




Avanços e retrocessos 20 anos após a Constituição de 88
Embora a Legislação atual seja avançada os povos indígenas do Brasil ainda lutam por antigas reivindicações

Apesar dos avanços introduzidos pela atual Constituição brasileira, a questão indígena ainda apresenta a posse da terra como um tema prioritário. Até os anos 90, a grande bandeira de luta era a questão da demarcação das terras indígenas. Se é verdade que muitas terras foram identificadas, não se pode ignorar que muitas não foram homologadas, principalmente depois do decreto Nº 1.775, que instituiu o direito ao contraditório, garantindo a qualquer pessoa questionar a demarcação proposta. Nas duas últimas décadas, a questão das terras indígenas continua gerando discussões, mas agora associada à questão ambiental, aos recursos hídricos e às mudanças climáticas, novos tópicos na velha pauta.

Vinte anos após a promulgação da Constituição-cidadã, o jornal Beira do Rio ouviu a professora e pesquisadora Eneida Assis, diretora adjunta da Faculdade de Ciências Sociais, mestre em Antropologia e doutora em Ciência Política, sobre os avanços introduzidos pela Carta Magna de 1988, em relação aos povos indígenas, e como a legislação atua sobre este novo momento da história. Eneida Assis vem se dedicando ao estudo da questão indígena desde os tempos de graduação e é, atualmente, a única cientista política trabalhando com o tema na Amazônia, região onde vivem em torno de 220 povos indígenas.

“Posso afirmar que a história dos povos indígenas se escreve antes e depois da Constituição de 88”, assinala a pesquisadora, para quem o processo de renovação e entendimento sobre a questão indígena no Brasil deslanchou a partir da década de 1970, quando a retomada do processo democrático frente ao Estado autoritário exigiu a organização da sociedade. Os povos indígenas, como parte da sociedade, não poderiam ficar à margem desse despertar, em que se destacaram atores como a Igreja Católica, movimentos religiosos menos evidentes e entidades de classe, entre as quais, a Associação Brasileira de Antropologia, a Associação Lingüística e, sem dúvida nenhuma, a Ordem dos Advogados do Brasil.

UFPA abrigava Grupo de Apoio ao Índio

Naquela fase, as ONGs ainda não existiam, mas surgiram associações especificamente voltadas à causa indígena, como por exemplo, o Grupo de Apoio ao Índio (GAI), com sede na Universidade Federal do Pará, e que teve como última presidente, a antropóloga Anaíza Vergolino. O GAI encerrou suas atividades em 1981, tornando Eneida Assis uma espécie de curadora da sua documentação. Todas essas entidades desempenharam um papel importante nos anos 70 e 80, fornecendo o instrumental necessário para a formação daqueles que iriam participar da Assembléia Nacional Constituinte em 1988. “A relevância desse papel foi muito grande, principalmente porque a questão indígena era bastante desconhecida no Brasil, como afirmou a historiadora e antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, então presidente da Associação Brasileira de Antropologia. Cabia ao pessoal que fazia parte dessa “comissão-de-frente” fornecer a documentação informativa para que os deputados pudessem trabalhar”, relata Eneida Assis.

Em termos concretos, os esforços de entidades, antropólogos, lingüistas e lideranças indígenas, ficaram expressos nos vários artigos do capítulo 7 da Constituição, que compõem o cenário legal que favorece os índios. “Não há dúvida que a Constituição de 1988 representou um avanço real e um diferencial quanto à questão indígena. Historicamente, as Constituições Republicanas sempre reconheceram a questão, mas com base no princípio da integração. A atual inovou ao reconhecer o princípio da diferença”, avalia a pesquisadora.

Eneida Assis lamenta, porém, que a mobilização não tenha conseguido fazer com que os indígenas pudessem participar como constituintes, o que para ela, demonstra a dificuldade do Brasil em lidar com a questão multicultural, ou seja, lidar com outras formas de pensar, agir e legislar.

Apesar dos avanços expressos na Constituição, a pauta de reivindicação dos povos indígenas ainda está apoiada no tripé terra, saúde e educação. O nível de organização de cada grupo reflete a maneira como eles podem influenciar nas agendas das políticas públicas, sobretudo nas estaduais.

Walter Pinto

matéria completa:http://www.ufpa.br/beiradorio/arquivo/beira62/noticias/rep1.html

Os índios não têm o fanatismo da verdade.
Várias versões discrepantes
sobre os mesmos eventos
são perfeitamente assumidas."


(Darcy Ribeiro ; antropólogo, no livro 'Diários Índios')

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Curumim
menina é
Cunhatã'i
Não é índio
é força
sem fim





A Cultura do indíginismo e da mentiralogia
Quem é Índio? Eu? Não! Somos Pataxó do Prado.

Por: Edmundo Santos

Índio... Se aceitarmos esse substantivo Cabralino, preconceituoso, descriminante, vamos dar sustentabilidade as mentiras e aleivosias do invasor Pedro Álvares Cabral. O mesmo dizia que estava navegando rumo às Índias e que depois de uma tormenta acabou se desviando da rota e encontrou o Brasil aleatoriamente. O “inocente” navegador e invasor português pensava te chegado às Índias, por isso apelidou os aborígines que viviam aqui há milhares de anos de “Índios”.

Não dar para continuar pregando uma aleivosia pretensiosa dessa. Seria cômico se não fosse absurdo. É por isso que nós povo Pataxó do Prado não aceita ser adjetivado de “indígena”. Quando aceitamos ser nomeados de Índios, estamos traindo a nossa própria etnia. E ferindo a memória dos nossos ancestrais. E mais: quando aceitamos o Pronome “Índios” estamos esquecendo da nossa diversidade, culturalidade, Religiosidade, hábitos, tradições, mitos e costumes. Porque no Brasil de hoje não temos um só povo. Temos 290 povos de etnias diferentes falando mais de 190 línguas.

É por isso que o nome Índio nos causa uma falsa ilusão de que todos são iguais e hegemônicos, e o que pior - que aqui só existe um só povo e isso não é verdade -. Cada povo tem a sua diversidade e culturalidade. Não somos um povo uno, somos diferentes nos mais diversos aspectos culturais religiosos.

Temos formas de vidas bem diversificadas de um povo para o outro. É por isso que esse nome “Índio” tem que ser banido do nosso vocabulário. Cada povo tem seu nome. É por isso que nós não somos Índios, somos Pataxó do Prado.

“Índio”, esse substantivo vigora ate hoje e serve para desqualificar os movimentos que lutam pelo o reconhecimento de suas etnias. “Apartir de agora uma outra Historia esta sendo contada”

http://100canais.ning.com/profile/EdmundoSantos

sexta-feira, 13 de março de 2009


Terra, ensina-me a lembrar
Por Cançao do povo Ute

Terra, ensina-me a quietude,
como a relva é silenciosa pela luz.

Terra, ensina-me a sofrer,
como as velhas pedras sofrem com a lembrança.

Terra, ensina-me a humildade,
como as flores são humildes em seus primórdios.

Terra, ensina-me a acarinhar,
como a mãe que envolve seu bebê.

Terra, ensina-me a coragem,
como a árvore que se eleva solitária.

Terra, ensina-me a limitação,
como a formiga que rasteja no solo.

Terra, ensina-me a liberdade,
como a águia que paira no céu.

Terra, ensina-me a resignação,
como as folhas que morrem no outono.

Terra, ensina-me a regeneração,
como a semente que brota na primavera.

Terra, ensina-me a esquecer de mim mesmo,
como a neve que derrete esquece sua vida.

Terra, ensina-me a lembrar da bondade,
como os campos áridos choram com a chuva.


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quinta-feira, 12 de março de 2009





CURUMIM
CUNHATÃ
CANTA
PRA MIM







A importância dos Grupos de Canto e Dança



Um dos aspectos mais preciosos da Cultura Guarani é a continuidade e preservação através dos séculos.
São sempre as crianças aliadas aos líderes dos Tekoah Guarani (aldeias) que perpetuam a música, o canto e a dança para sempre, enquanto for preservado um dos povos mais antigos do Planeta.
Os Guaranis foram os primeiros a povoar a América do Sul.
Sua Cultura e Tradição, assim como a Crença no "Nosso Pai" (Nhande Rú) é um conjunto de regras, postura e honradez mais evoluídos e mais lindos se comparados a qualquer outra seita moderna.
Suas entidades sagradas são mantidas rigorosamente em todos os eventos de gratidão ao Criador e aos Primogênitos da Existência Guarani.

Outro aspecto maravilhoso é o "Nhande rekó" que significa: Nosso Jeito de ser.
Um exemplo de educação, respeito, amizade, solidariedade e gratidão que faz dos
homens, mulheres, velhos e crianças seguir um código sagrado que o diferencia bastante de qualquer outra etnia e serve de ótimo exemplo ao Povo Juruah (Não Índios) pela sua dignidade e racionalidade de ações.

Eu amo Tenonde'i (O pequeno caminho) que levará ao todo, ao sempre, o espírito e vida Guarani.
Xe ero ayvú hetah, Tenonde'i.

Heitor Kaiowá


O Coral Tenonde'i

O Coral de Tenonde'i (Caminho pequeno) é o coral da Aldeia Indígena de Tenondé Porã. É uma mostra da cultura Guarani pelo seu lado mais doce. Coordenado pelo Ataide Vilharve, que também atua como violinista, tem se apresentado em eventos culturais sempre com muito sucesso.
Hoje o coral precisa de projetos e/ou patrocínios que viabilizem a locomoção, viagens, vestuários, instrumentos e tudo o que possibilite a apresentação da Cultura Guarani ao Brasil.
Além disso, Tenonde'i atua diretamente na auto-estima das crianças Guaranis, integrantes ou não, que vêem a sua cultura e as suas raízes valorizadas.

O Coral e Grupo de Danças Guarani da Aldeia Tenondé Porã de São Paulo foi convidada para fazer parte das apresentações de despedida dos Jogos do PAN no Rio de Janeiro.

Ana Kristina

fonte: Comunidade Coral Tenonde'i - orkut

terça-feira, 10 de março de 2009




SEPÉ TIARAJU

Nasceu na Redução de São Luiz Gonzaga
Órfão de pai e mãe, adotado por um jesuíta
Passou a acreditar em um só Deus e sua adaga (Decimar)

Sangue guarani nas veias
Aguerrida fé a impulsionar
Indígena de grandes peleas
Bravura na testa, seu lunar (Anorkinda)

Carregava em seu peito
Um espírito guerreiro
Totalmente inquieto
Como cavalo matreiro (Decimar Biagini)

Dizem que sua namorada
sonhou com a tristeza
Que em breve faria chegada...
Sepé fez-se fortaleza... (Anorkinda)

Um dia Teiniaguá apareceu
Mulher de demoníacas tentações
Foi que Sepé quase cedeu
Mas a fé tem de suas provações (Decimar Biagini)

Não aceitando a proposta como anteparo
A diaba entregou-o ao General
Este disse: - Você é apenas um pobre bárbaro
E Sepé com uma raiva sem igual
Respondeu ao sangue nobre imperial:
- Bárbaro? - Tu é que pretendes arrancar a terra de seu dono!

Por fim, completou como que cuspindo em Portugal:
- Luto em defesa de um povo pacífico que tiraste o sono!
- Quem é o Bárbaro aqui afinal?
Foi então que percebendo o Herói em sua frente
O General o soltou por achar conveniente

Fingiu ser seu amigo para que os espanhóis chegassem
Guaranis comemoravam como se tréguas conquistassem
Uniram-se então dois impérios para que as terras os tirassem
E então Sepé não pode impedir que seus irmãos se dizimassem(Decimar Biagini)

Com seu grito de amor à terra e seu povo
Sepé lutou em desvario, liderou com sangue novo
Até ser atingido pelo branco sem consolo
Mesmo resistindo, finalmente caiu ao solo

Dizem que subindo aos céus
Sepé enviou bênçãos aos seus
Sua estrela, seu lunar tomou lugar no firmamento
reconhecido pela lei do branco
Hoje é : herói guarani missionário rio-grandense!(Anorkinda)

Decimar Biagini & Anorkinda Neide


07/02/2006 - Documento Final da Assembléia Continental Guarani


Assembléia Continental Guarani

250 anos de Sepé Tiaraju


Nós, mais de mil participantes desta Assembléia Continental do Povo Guarani, pertencemos aos povos que são os antigos donos destas terras do Sul. Aqui viveram nossos antepassados durante milhares e milhares de anos. Em paz, nossos antepassados criaram comunidades e culturas; em paz nossos antepassados criaram gerações e gerações que conviviam com base no respeito, na solidariedade e na igualdade plenos.

Para cá vieram, 400 anos atrás, religiosos europeus que propuseram à nossas antigas comunidades viver na forma das chamadas missões jesuíticas. Como vieram em paz e como o que propunham pareceu, aos olhos dos nossos antigos, bom, foram aceitos e assim surgiram os Sete Povos das Missões, envolvendo os territórios do atual Brasil, Argentina e Paraguai.


No entanto, o poder político e econômico de Portugal e Espanha, no século XVIII, entendeu que aquelas missões e os povos que delas participavam eram uma ameaça a suas pretensões de dominação colonial nestas terras americanas. Como conseqüência, os exércitos de Portugal e Espanha, juntos, desataram toda sua violência contra nossas comunidades.

Com sua guerra e suas armas, espalharam o terror e a morte em nossos campos sagrados. Nosso grande herói, Sepé Tiaraju, liderou a resistência de nosso povo e por isso foi assassinado no dia 7 de Fevereiro de 1756. Pouco tempo depois, cerca de 1500 guerreiros de nosso povo foram massacrados pelos exércitos invasores nos campos de Caiboaté.


Durante estes dias, em que relembramos todos estes episódios de luta e dor da nossa História, homenageamos o inesquecível Sepé Tiaraju e fomos até os campos de Caiboaté, chorar e homenagear nossos mortos, 250 anos depois do terrível massacre.

Realimentados e fortalecidos pelo espírito e pelo sangue de nossos antepassados, conscientes de que esta terra sempre pertenceu ao nosso povo e que dele foi roubada, nos dirigimos às sociedades e aos estados brasileiro, argentino e paraguaio.


No caso do Brasil, apesar da Constituição Federal de 1988 ter reconhecido nossos direitos como povos e ter mandado demarcar todos os nossos territórios num prazo de cinco anos, muito ainda falta ser feito. Apenas cerca de 40% dos territórios indígenas foram demarcados e homologados. O sistema judiciário brasileiro tem agido, em muitos casos, como instrumento dos invasores, tanto no âmbito estadual como federal. Exemplo disto foi o violento despejo na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, no estado de Mato Grosso do Sul. Este território já estava demarcado e homologado, no entanto, a comunidade indígena que lá vivia foi violentamente expulsa no dia 15 de Dezembro de 2005 pela polícia federal, devido a ordem vinda do Supremo Tribunal Federal, que acatou ação judicial dos fazendeiros invasores. Ameaçada pelas armas, a comunidade de Nhanderu Marangatu foi para a beira da estrada e lá, o líder Dorvalino Rocha foi covardemente assassinado por pistoleiros que trabalham para os invasores da Terra Indígena.


No caso da Argentina, também existe uma Constituição Federal que reconhece os direitos originários dos povos indígenas. No entanto, por falta de vontade política e pela ação dos inimigos, a lei maior do país não é levada à prática. Não chegou até as Constituições Provinciais o reconhecimento dos direitos indígenas. Devido a esta situação, os problemas mais aflitivos de muitas comunidades indígenas na Argentina seguem sem solução ou providências que possam resolvê-los, resultando no fato de 75% dos territórios não estarem ainda reconhecidos e titulados.

No caso do Paraguai, políticos inimigos dos povos indígenas tentaram aprovar uma chamada "Lei Indígena", às escondidas e sem a consulta às comunidades que seriam diretamente afetadas por suas conseqüências, em todos os aspectos de sua vida. Somente com uma forte mobilização indígena e de nossos aliados foi possível fazer o poder legislativo recuar ante a violência que estava prestes a cometer. Apesar deste recuo, a situação dos territórios indígenas no Paraguai é escandalosa, com a maior parte dos territórios insuficientes e não reconhecidos. Esta situação desagregadora causa a migração de famílias indígenas para as cidades no Paraguai, assim como ao Brasil e à Argentina, expulsos de sua terra original. Ironicamente, muitos invasores que se apropriam de nossos territórios indígenas no Paraguai são empresários brasileiros, gerando uma situação de profunda injustiça e miséria, que nos faz lembrar da violência colonial.


Nestes dias em que estivemos juntos, na Assembléia Continental do Povo Guarani, não comemoramos os episódios de 250 anos atrás, mas retomamos a memória do que ocorreu ao nosso povo para refletir, aprender e seguir lutando por nossos direitos, principalmente pelo sagrado direito à terra, com força e determinação.

Sepé Tiaraju continua vivo na luta dos povos indígenas da América Latina. Nos 250 anos de sua morte, Sepé Tiaraju multiplicou-se em milhares de lutadores e lutadoras do Povo Guarani, dos Povos Indígenas e todos os Povos Latino-americanos.


São Gabriel, Rio Grande do Sul, Brasil, 7 de Fevereiro de 2006.
http://www.cimi.org.br/?eid=362&system=news