sábado, 28 de março de 2009

Da vida real para telinha
(Matéria sobre o indígena Fidelis Baniwa, que trabalhou na série Mad Maria na Globo)



Ele é o índio caripuna que andava sorrateiro pela mata amazônica e que foi flagrado pelos alemães furtando alguns de seus pequenos objetos. Teve suas mãos decapitadas por esse frio povo germânico como castigo e agora está às voltas com a beleza de Consuelo (Ana Paula Arósio).

Nessa entrevista exclusiva, Fidélis Baniwa conta um pouco sobre o seu personagem na minissérie Mad Maria e a importância da divulgação da cultura indígena aos telespectadores que, por diversos motivos, desconhecem as boas raízes dos reais nativos da América.

Entrevista:
Como é que as pessoas te conheceram? Como você pegou esse papel?
Tenho uma história um pouco diferente, né? Nasci em Santa Isabel do Rio Negro, em Igarapé, Amazonas. Em 1997, eu me fixei em Manaus para estudar. Paralelamente a isso, eu fui estudar na companhia Vitória Régia de Teatro, que é uma das companhias mais antigas na cidade. É também um dos pilares do gênero com Nonato Tavares ao seu comando que, além de ator, é também um artista plástico bem reconhecido por seu trabalho. Com ele, a gente trabalhou temáticas indígenas mesmo, mitos do meu povo. Assim, pudemos reavivar um pouco dessa cultura há muito degradada pela civilização. De volta a Rio Negro, a gente encenou a peça "Antes O Mundo Não Existia" que representava a história de um dos povos indígenas do Amazonas.

E você é índio mesmo?
Eu sou. Sou um índio da tribo Baniwa.

"Baniwa" é inclusive o seu sobrenome. Ele é adotado por causa da tribo?
Exato. É porque todos nós, os indígenas, usamos o nome de nossa tribo para podermos nos identificar. É aí que o índio consegue distinguir de onde vem o companheiro.

Os Baniwa são um povo originário do Amazonas?
Hoje, os Baniwa estão espalhados, tanto na parte da fronteira do Brasil com a Venezuela, quanto na Colômbia. Inclusive, há mais de nós nesses outros dois países do que no Brasil. Isso aconteceu por causa da invasão portuguesa que afugentou os índios que viviam em território que antes era espanhol para os países vizinhos.

E que língua os "Baniwa" falam? É o Tupi-guarani?
Não. Nós falamos o "aruaque", que é totalmente diferente do tupi.

Você chegou a ter uma vida menos urbanizada do que as dos índios de hoje?
Sim. Até hoje, a maioria das coisas como rituais de iniciação, as comidas típicas, as vestimentas, são todas as mesmas. Não mudou muita coisa. O que mais mudou mesmo foram as estruturas das casas, que antes eram grandes para suportar famílias inteiras e manter suas dinastias.

E isso deve ter causado uma mudança profunda no costume de vocês, não?
Com certeza, isso foi uma modificação imposta pelos missionários para confundir a cabeça dos índios porque, ter uma casa onde havia uma grande liderança, como um grande chefe de família, que possuía uma tradicional família indígena, significava uma forte ameaça para eles. Então, a partir do momento que acabaram com essa unidade familiar, os índios perderam a força, a identidade com o passado, e foram conquistados.







E como é estar aparecendo agora em cadeia nacional, por conta de Mad Maria, onde todos aprenderão sobre os costumes do seu povo?
Na verdade o índio caripuna tem uma aproximação maior do tupi-guarani do que de fato minha tribo. Como eu falo "ingatu", que é como se fosse uma língua universal para os índios, me sinto bem próximo desse personagem que estou representando na série. Conversei também com o Márcio de Souza, que é o autor do romance, e ele me falou justamente que os caripunas possuem um tronco lingüístico parecido com o de minha tribo. O trabalho que a TV Globo nos proporciona hoje é um ponto bem positivo para o índio brasileiro. Mostrar a nossa cultura de uma forma mais real a tanta gente é muito importante. Depois de anos camuflados como bandidos ou selvagens, o telespectador agora pode conhecer o lado bom e puro do índio, que, na verdade, foi mais uma das vítimas da colonização do homem branco. A idéia é o conhecimento da raça. Hoje, não se identifica um Baniwa ou um Caripuna nas ruas, mas sim, um índio qualquer. E todo índio é diferente. A série talvez traga um pouco desse conhecimento ao povo, que é o que nos interessa. Queremos ser reconhecidos. Ter o nosso lugar, sempre que existirmos.



matéria completa:http://redeglobo.globo.com/Series/Madmaria/0,,AA914712-4147,00.html

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