sexta-feira, 5 de março de 2010



URUTAU - MÃE-DA-LUA AVE-FANTASMA


O urutau, jurutau ou urutago, também chamado dono-da-noite e, em Pernambuco, mãe-da-lua, pai-da-lua e pai-de-mata é uma ave cinzenta, da ordem dos estrigiformes (família Nyctibiidae), com boca grande e hábitos noturnos que o fazem misterioso e aterrador. O nome é aplicado a várias espécies do gênero Nyctibius.

Segundo o dicionário Houaiss, seu nome deriva do tupi uruta'gwi "ave da família dos nictibiídeos". Segundo Fernando Costa Straube, seu nome seria uma corruptela do guarani guyra (ave) e táu (fantasma)

Para os guarani é a indígena Nheambiú que virou ave depois da morte do seu noivo Quimbae. Os tupinambá afirmavam que ela trazia notícia dos antepassados e não a matavam. Suas penas servem como preservativos contra a luxúria. Ao vir da puberdade, as moças indígenas assentavam-se sobre a pele retirada a um urutau. Para outras tribos o costume era varrer o chão com as penas da mãe-da-lua.

Os carajá dizem que ela foi a moça Imaeró que tomou a forma do Urutau com ciúme de sua irmã Denaque que se casara com Tainacã, a estrela Vésper, tornado velho e alquebrado, e que pedira noiva e só Denaque o aceitara. Quando Imaeró viu Tainacã moço, forte e bonito, enlouqueceu de raiva e ficou sendo o urutau lúgubre.

Para os indígenas do rio Buopé (Uaupés) afluente do rio Negro no Amazonas, foi o tuxaua Duiruna que se tornou urutau por ter sua mulher Ueundá se transformando no peixe pacutinga ou pacu-branco (Myleus rhomboidalis).

Urutau não tem só um: só no Brasil são cinco espécies, todas pertencentes à família dos nictibiídeos (em latim, Nyctibiidae) e ao gênero Nyctibius, grupo que é restrito às regiões mais quentes do continente americano. São aves exclusivamente noturnas, dotadas de cabeça larga e achatada, bico e pernas pequenos e enormes olhos. As asas e cauda são consideravelmente longas e o corpo robusto e musculoso. A coloração, especial para a camuflagem, apresenta-se acinzentada a marrom, invariavelmente com pintalgos e manchas pretas, cinzentas e marrom-claras de vários tons, tamanhos e formas, dispersas pelo corpo, que é sempre mais escuro na região dorsal .

São aves exclusivamente insetívoras, tendo especial predileção por invertebrados grandes, que compensem o gasto energético despendido para persegui-los. De comportamento calmo e observador, o urutau pode capturar grandes besouros, mariposas e outros animais, lançando-se rapidamente com vôos de assalto na direção destes, capturando-os nos troncos ou sob as folhas. Em geral prefere caçá-los em vôo, quando os apreende graças ao formato de sua boca descomunalmente grande.


Arborícolas por excelência, não descem ao solo. Pousam geralmente na ponta de troncos mortos, parecendo um prolongamento destes, mas também em posição transversal a galhos mais grossos, hábito mais reservado ao período noturno; gostam também de estipes de palmeiras mortas e mourões de cerca.

Não constroem ninho. Tudo o que fazem, no período de reprodução, é depositar um único ovo em alguma forquilha de galho grosso a grande altura ou numa cavidade natural de seu poleiro noturno, onde permanecem em atividade de choco. O ovo é esbranquiçado com pequenas manchas cinzento-violáceas e pardacentas, e mede aproximadamente 4,0 x 2,5 cm.

Demora cerca de um mês para ser devidamente incubado e dele sai um filhotinho quase todo coberto de fina e macia penugem branca, com algumas manchas mais escuras. Logo após o nascimento, o pequeno urutau precisa aprender que a magnífica camuflagem de seu corpo não basta para sua defesa. A imobilidade faz parte da arte de se ocultar. Assim, agarra-se firmemente ao poleiro, raramente se movendo e ficando, assim, parecido com um pedaço apodrecido de galho.

Com o tempo, o jovem vai adquirindo uma cor mais escura e as penas das asas e cauda acabam por se desenvolver por completo após cerca de 50 dias . Trata-se de um dos períodos mais longos entre a desova e o abandono do "ninho" dentre todas as aves da América do Sul, o que pode ser interpretado como uma comprovação da eficiência de sua capacidade de camuflagem (Sick, 1997)

Uma das adaptações mais curiosas encontradas na avifauna brasileira está no fato deles poderem enxergar tudo o que se passa nas imediações de seu poleiro, mesmo estando com os olhos fechados! Tal detalhe não é conhecido em nenhuma outra ave e torna-se ainda mais útil para sua já eficiente camuflagem se considerarmos que o bulbo saliente do olho e arrumação compacta das penas acima dele permitem a visão para cima e para trás, sem necessidade de mexer a cabeça.

Objeto do folclore e do imaginário, o urutau é lembrado também por suas características; uma delas é o formato estranho dos pés, altamente adaptados -parecendo mesmo deformados - e que servem muito bem para a fixação, enquanto permanecem agarrados nos poleiros verticais.


Um assunto interessante, lembrado sempre que se fala de urutaus, é a relação entre boca e bico, aspectos que em geral são tidos como sinônimos, mas que, para essas aves, se distinguem bastante.
essas aves, porém, ele é extremamente desproporcional ao tamanho da boca, uma vez que é muito pequeno, enquanto essa é enorme, lembrando a de um grande sapo. Numa mãe-da-lua-gigante (Nyctibius grandis), por exemplo, o bico chega a dois centímetros ou pouco mais, enquanto sua boca - aberta - pode alojar um punho cerrado de um homem chegando, portanto, a quase oito centímetros de diâmetro.


Fontes:
http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Urutau
http://blogcaicara.blogspot.com/2009/10/urutau-ave-fantasma.html
http://ricardo5150.blogspot.com/2008/02/espetacular-ave-fantasma.htm
l

PARAMANA ( no Tupi: a chuva do mar *)


Dos lânguidos olhos de Uiara
a vertente clara irrompera.
A vulva da chuva se entreabrira
a benzer o útero dos rios
de ondas dáguas e claras anáguas
desenvoltas em vagas e véus.
Gotas, fontes, líquidos desvios
inundando a terra em sins e cios.
Sob a mão direita de Tupana
veio se acender o setestrelo
e à chuva do mar - a paramana*,
o arco-íris desfez seu novelo.
São perenes fontes, seus olhares.
Lágrimas vertidas - tantos mares.

Aline de Mello Brandão